sexta-feira, 30 de abril de 2010

Tarde enegrecida

Um segredo perdido ao vento, meu amor escondido
Entre a lua e as estrelas: o seu coração singelo
Vejo o brilho dos seus olhos verdes, azuis e castanhos
Nas águas frias do riacho, através das nuvens crepusculares

Sua voz solta na imensidão, incompreendida
Imagem singular ao inverso do paraíso, você se foi
Encontrei sinceridade nos seus beijos vulcânicos
A falsa magia me entorpeceu, acreditei

Uma partida infinita, sem adeus
Sua face pálida, confusa entre a neve
Nenhum sabor, cheiro ou dor
Frio, tarde enegrecida, fim amargo

O passado corrompido entre flores e espinhos
Lágrimas azuis, roxas e amarelas, espaço imenso
Voe ao longe, brisa sem destino, não volte
O afeto se acabou, o silêncio permanece

sábado, 24 de abril de 2010

Vienna

Depois de uma briga, ele saiu. Ela ficou sentada, chorando, na cama. Ele entrou no carro, ligou o som e começou a tocar Vienna. Seria o fim de um relacionamento conturbado e repleto de discussões? O que eles precisavam falar, se calou. O que ela queria ouvir, ele não disse.

Ela levantou, foi até a janela, o carro ainda estava lá. Fechou a cortina, foi ao banheiro, lavou o rosto, com água gelada, olhou no espelho, viu sua face pálida com os olhos vermelhos e as gotas das lágrimas derramadas se misturando com as gotas de água. Chorou mais. Doía muito, e só ela sabia a dor de todas aquelas brigas, a dor do abandono, a dor das palavras ditas e do medo. Medo de perdê-lo por mais uma vez, porque, a cada nova briga, ela sentia que um pedaço de suas almas se desunia.

Ele ligou o carro, enquanto ouvia a voz de Isaac Slade, e percorria as ruas escuras daquela noite fria, pensava nela, em tudo o que tinham vivido juntos, pensou no que disse. Ainda via os olhos dela cheios de lágrimas, escutava a sua doce e delicada voz pedindo para que ele parasse, pois não aguentava mais. Percebeu, então, que, naquele momento, a havia perdido para sempre. Nunca em uma briga ela tinha pedido para ele parar, nem mesmo havia chorado em sua frente.

Ela estava sentada no sofá, na televisão assistia a algum filme estapafúrdio com atores excêntricos e desconhecidos, pensava nele e em como ele era grotesco. Como poderia ela ter sofrido tanto todo esse tempo?
O amor, que pensava existir, não existia. Era costume. Muitas vezes, quando se convive muito tempo com certa pessoa, pode acabar confundindo “amar” com “acostumar”. Ele tinha sido seu primeiro namorado. Quatro anos de desentendimentos, palavras rudes e por poucas vezes o amor que ela buscava, que ela merecia.

Ele telefonou, ela atendeu. Silêncio por alguns instantes...
- Você nunca atende tão rápido – ele disse.
- Hoje é diferente – ela respondeu.
- Não vai mais ser como antes, não é? – ele continuou.
- Não sei se você me ama, já não sei mais se existe amor entre nós, mas tenho certeza que eu não o amo. Acabou e não insista – ela desligou. Não havia mais lágrimas para derramar. Sorriu.

Pela primeira vez, ele chorou.

“Talvez em cinco ou dez anos nós nos encontremos novamente. Quando a coisa toda estiver certa. Talvez então a necessidade de honestidade não seja temida como um amigo ou um inimigo. Esta é a distância e esta é a face do meu jogo.”

Nesta noite, Vienna era toda para ela.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Um cappuccino quente, por favor!

Sinto o vento gelado arranhar a minha face, cortar os meus lábios e rasgar a minha alma. Permaneço sentada. O banco está gelado, a praça vazia, uma tarde de sábado com o céu prata acinzentado, inverno rigoroso. Sinto-me só, meus amigos foram embora, ainda não encontrei o amor - ou ele não me encontrou? - Amor. Pequeno detalhe que faz uma enorme falta. Levanto, caminho em direção à igreja, não me recordo qual foi a última vez que lá entrei. Volto a andar, sem rumo, sentindo os primeiros pingos da chuva caírem ao chão. Entro em um Café, há duas moças no balcão, um senhor de terno azul, lendo algum jornal da cidade, e escuto uma música tocar no volume mínimo... "Hold me tight". Na última mesa, um rapaz, de óculos, toma seu café, suavemente desce a xícara até o pires e coloca mais açúcar. Sento-me em uma mesa antes da sua, ele me olha por um pequeno instante e continua a adoçar o café. Uma, das moças do balcão, vem até mim e pergunta o que desejo. Peço um cappuccino. Não consigo tirar os olhos daquele rapaz, cuido todos os seus movimentos, a maneira com que ele mexe o café com a colher, o modo como morde os lábios após tomar um gole. Ele me olha, disfarço, ele sorri - quase morro - sorrio timidamente. Tenho a mania de tentar entender as pessoas, mas nesse momento não consigo entender-me muito bem. A moça traz o meu cappuccino, agradeço. Um cappuccino quente, em um dia de frio, é capaz de aquecer um coração gelado... Acredite. O rapaz levanta, está usando uma camiseta branca, escrito “Oasis”, em preto, ele é magro; pega o seu casaco, que está sobre a outra cadeira, veste-o, tira uma touca do bolso e a coloca. Olha para mim, se vira e vai ao banheiro. Parece que nascemos um para o outro, fico imaginando nós dois de mãos dadas indo ao cinema... Estranho, não sei nem ao menos o seu nome e já vejo um futuro entre nós. Ele volta, eu estremeço, passa ao meu lado e deixa um bilhete cair lentamente sobre minha mesa. Não tenho coragem de ler. Fico parada feito uma tola, olhando um retrato do John e do Ringo, abraçados, que está na parede. Olho para fora, através da vitrine, e vejo-o atravessar a rua. Leio o seu bilhete: “Oi, meu nome é Max, sei que o seu é Giovanna, sei, também, que é estudante de Direito, pois estudamos na mesma universidade, porém faço Música. Venho todos os sábados aqui, no próximo, se quiser me acompanhar, ficaria mais tranquilo, porque se, caso, não aceitar meu convite, morrerei de vergonha e terei que mudar de cidade.” Levanto e pago o meu adorável cappuccino, que conseguiu a façanha de esquentar meu peito e me trazer uma pequena alegria de viver. Agradeço sorrindo, e até sábado à tarde.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Uma sala, uma fotografia e um café

- Já faz seis anos – disse ele.
- O tempo passou rápido – finalizou ela, pegando seu cachecol e saindo sem fechar a porta.
Na sala, permaneceu o silêncio e ele. Sentado, olhando para o chão, imóvel, com o braço direito apoiado na lateral da poltrona.

Enquanto os carros passavam pela rua e suas imagens refletiam nas vidraças das vitrines, ela caminhava apressadamente, com as mãos vermelhas e os lábios ressecados pelo frio. Parou um instante, seu semblante refletia uma imagem contraditória, continuou. Virando a esquina, entrou em um antigo edifício, cor de pêssego, de três andares. Subiu as escadas com calma, degrau por degrau. No último andar, um rapaz magro, de cabelos negros, sem pentear, rosto pálido e estatura mediana, a esperava encostado na porta.
- Mel, não imagina o tamanho da falta que senti – disse ele, olhando profundamente para os lábios dela. Ela o beijou.
- Não posso mais viver sem você, Gregório. Vamos embora para longe, só nós dois – sussurrou ela ao ouvido dele. Entraram e fecharam a porta.

Na sala, ele permanecia sentado, olhando uma fotografia, que atrás estava escrito “Melissa e Vicente”, dentro de um coração. Na foto, o casal representava o típico amor juvenil, primeiro romance, primeiro namoro...
Levantou-se, foi até a cozinha e preparou um café, quente e amargo, para sentir no estômago o fim de um relacionamento. Voltou para a sala, pegou um livro, sentou-se em sua poltrona e começou a ler.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Não seja frio

Me abrace; me abrace forte e apertado, não tenha medo, não fuja. Fique mais. Eu preciso... Preciso ouvir a sua voz. Vamos juntos para qualquer lugar longe daqui, onde os dias não terão fim, os nossos beijos serão intensos e sem medo; se entregue verdadeiramente. Feche os olhos e se apóie em mim, não minta. Para cima, se está deprimido, olhe para cima, eu sempre estive aqui e sempre vou estar. Não, não se deixe levar pelo caminho obscuro, eu sou a sua luz e vou fazer de você o melhor, eu amo você. Olhe a chuva comigo e aprecie a sua beleza, um dia nublado não vai lhe causar dor, durma ao meu lado. Podemos ir longe, podemos ser únicos, tente outra vez. Pegue a minha mão, o inverno está chegando e eu vou ser o seu aconchego, vou lhe segurar firme e cuidar das suas cicatrizes. Posso aquecer o seu coração, é só lembrar que tem um. Não destrua-nos, acredite... Creia sempre no amor. Viva por nós. Ame. Acredite na primavera e nas flores. Não seja frio.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Pequeno comentário

Tenho deixado meu blog de lado, mais por motivo profissional do que pessoal, logo que uma estudante de Direito deve se dedicar completamente aos estudos. Mas a minha vida pessoal se confunde com a profissional, sendo que acabo deixando meus amigos de lado para apreciar uma boa leitura do Código Civil, dentre outros livros e apostilas que degusto com os olhos, cérebro e alma. No último domingo tive a honra de assistir um fantástico e inefável filme que meu amigo Marrer me emprestou e hoje venho aqui para indicá-lo a vocês, chama-se O fabuloso destino de Amélie Poulain. Indico para os bons apreciadores de histórias simples e encantadoras, se apreciarem, esse drama cômico é ideal. Esse filme que concorreu ao Oscar em 2002, mas infelizmente não ganhou, relata a vida de Amélie desde a sua infância isolada das pessoas, até se tornar uma jovem garçonete que após ter encontrado uma caixa pessoal no seu apartamento, resolve sair em busca do verdadeiro dono desse objeto, mas essa é somente a primeira parte do filme... Portanto quem estiver disposto a se entregar a uma magia francesa única e especial não deve deixar de assisti-lo. E ainda deixo mais uma dica, para os que gostam de rock alternativo, muito parecido com The Beatles, todos já devem ter ouvido Oasis, tenho certeza, caso não tenham, Oasis – Don’t Look Back In Anger, som deslumbrante, com letra indescritível e romanesca.