quinta-feira, 17 de novembro de 2011

"short message service"

- “Quando o dedo aponta o céu, o idiota olha para o dedo.”
- Por isso que as estrelas, tristes, viram cristais para anéis.
- E a lua, em quarto minguante, reflete na unha. 

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Segundo

Eu te esperava todo dia,
às 17h eu tomava um chá
de maçã com canela,
e lembrava que você
preferia o de hortelã, sem açúcar,
mas sempre bebia um pouco
do meu que era mais doce
do que calda de pudim
e reclamava,
chamava-me Doce
ao olhar pela janela,
e ver que as crianças
saíam das escolas, e
iam para casa assistir
a parte final do desenho
animado;
você era animado.
Eu lembrava, todo dia,
que sentava do seu lado,
e você com aquele jeito de
Ricardito do Llosa
me encantava,
depois beijava as minhas
mãos gélidas, e dizia que
o meu hidratante era um dos
sete pecados, e
eu te chamava de bom menino,
mas nunca fui a Lily.
Eu sentia um vazio
que lembrava, outra vez,
quão indefinível é o
amor.

Primeiro


Eu queria te escrever algo bonito, 
você deu literatura ao meu coração,
eu queria te dar um poema que
ficasse no seu criado-mudo 
para que lesse antes de dormir
e ao acordar
pensaria em mim e
no tamanho do meu amor.
Eu queria te dar palavras,
mas te retribuí com silêncio,
o mesmo silêncio
que me deu ao tirar de mim
a literatura que
havia…

domingo, 24 de julho de 2011

Duas adagas

Um pequeno traço cortava o céu, possuía o formato de uma adaga. Seus olhos azuis estavam levemente fechados devido à luz solar, e na sua imaginação havia uma batalha entre guerreiros medievais. O zunido que o vento fazia, parecia alguma chanson diminuindo e aumentando à cada segundo. Do seu lado direito havia um livro de bolso, do lado esquerdo um moletom, desnecessário para aquela tarde, e um violão. Aos vinte anos de idade não sabia o que seria do seu futuro, não sentia saudade, não amava, não queria movimento, buscava algo desconhecido. Uma camiseta vermelha, desbotada e com a face de “El Che”. Não concordava com os pensamentos dos seus familiares, não aceitava as atitudes da maioria dos seres humanos. Na sua imaginação, a adaga era a sua voz, lutava contra os capitalistas, terminava com as diferenças e ao seu lado havia uma moça.
Uma aflição dentro do peito. Uma tristeza no olhar. Uma escolha escondida. Desapego ao ter carinho. L’amour.
Os seus heróis eram personagens criadas em um paradigma pessoal. Não era covarde, não era ocioso.
Talvez fosse mais corajoso do que imaginavam. Talvez soubesse o que procurava. Era dois dentro de um. Era pergunta ao ser resposta.

terça-feira, 22 de março de 2011

Auto-Libertação

Havia se tornado três faces depois de, consequentemente, ter sofrido pressões e decepções. Uma diluída pela desilusão, outra ferida pelo desafeto e a sonolenta, causa dos caminhos traçados. Não sentia, apenas respondia com o olhar cansado. As pequenas pestanas balançavam como se estivessem em guerra consigo mesmas. A dor estava presente e as lembranças quase não existiam.
Poderia ter sido diferente, poderia ter feito outras escolhas...
O sorriso poderia ser constante, mas optou pelo suicídio. Não ingeriu dúzias de comprimidos, apenas desistiu.

Outono austral

Nos últimos dias tenho tentado falar com você, mas não consigo. Meu orgulho é meu dilema, minha dor é a sua ausência e a solidão apenas uma companheira. Ela me disse que o verão seria longo e que as tardes ensolaradas somente esquentariam minhas mãos geladas. Odeio o sol. Você amava calor, praia e bossa nova. Eu amava rock’n’roll, chuvas prateadas e você. Escrevi dezessete textos desde o último dia que nos falamos, apaguei todos. Ouvi nossa música tantas vezes, ao passo que lia e relia Fernando Pessoa... Apenas uma tentativa furada em tentar lembrar e esquecer você ao mesmo tempo. Hoje não passo de um magricelo, pálido e despojado, que gasta suas únicas horas livres em porres e lágrimas, por sentir tanto a sua falta. Você tocava minha alma, beijava meu corpo e sussurrava ao pé do meu ouvido palavras doces, palavras sujas, frases quentes e às vezes melancólicas. Você dizia que me amava, eu retribuía com juras de amor eterno. Estou ficando lunático, olho ao redor, não vejo nada, olho de novo, vejo você, vejo estrelas douradas que me deixam cego por alguns segundos, não durmo. Acordo cansado, eu sonhei com você todas as noites, grito, choro por mais uma hora. Sim, aceito o fim. Não, eu não aceito. Meu humor varia diversas vezes ao dia. A saudade não cessa. Me pus a ler horóscopo para tentar achar uma explicação. Paraíso astral. Não. Não tem explicação, você mesma disse. Simplesmente precisa de novas experiências. Como posso viver sem você? Sempre fui um tolo, metido à intelectual, entendo de música, literatura, vinhos e domino a gramática. Era isso que você gostava em mim, sempre me disse. Então por que fugir pelos becos sujos, com um bêbado que chama você de “gatinha”, e usa sempre a mesma camiseta desbotada de um time de futebol? Não entendo. Não sei quais são as novas experiências que deseja, talvez precise sofrer, aprender, morrer e nascer várias vezes ao ano, para conseguir entender que ao meu lado é o seu lugar. Nós nos somamos, aprendemos um com o outro. Eu lhe ensinei o português, você me ensinou o amor; existe melhor soma do que essa? Não. Você voltará. Eu estarei observando as folhas caírem.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Dois

Era magro. Tinha mãos macias e dedos compridos, um sorriso delicado, com dentes perfeitos. Eu observava durante horas os seus lábios rosados, pequenos e úmidos. Ele dormia como criança, algumas vezes movia a cabeça de um lado para o outro, mas permanecia daquele jeito, um pouco virado para a esquerda, com o joelho direito levemente dobrado. Quando acordava, abria os olhos com muita calma, mexia nos cabelos escuros, fazendo com que os seus cachos balançassem como se estivessem dançando mambo. Aos sábados à tarde era quando ele lia Gabriel García Márquez, devorava durante horas a fio alguma obra do autor. Depois levantava e vinha acariciar meus cabelos, minha nuca, beijava minhas costas, descia pelo ombro até chegar nas pontinhas dos meus dedos, onde eu podia sentir com mais intensidade a umidade dos seus lábios sempre corados. Era gelado. Possuía braços magros e brancos, como algodão, os seus olhos eram cor de mel, com lindas pestanas compridas e as sobrancelhas, não há como descrever, com um desenho único, belas, grossas e escuras, que reforçavam a profundidade do seu olhar. Um olhar único. Todos os dias eu me apaixonava por ele, todas as noites eu sonhava com ele. Conversávamos sobre vários assuntos, dávamos risadas até lágrimas saírem dos nossos olhos, nos amávamos com muita intensidade, eu descansava em seu colo, tomávamos chocolate quente com bolachas de polvilho, que eram as suas preferidas, ouvíamos Oasis, assistíamos algum filme francês e depois tentávamos imitar os atores principais. De madrugada, quando o sono não vinha, assistíamos Peanuts, ele dizia que eu era parecida com a Lucy van Pelt, eu o chamava de "Minduim", ele queria ser o Linus. Nós éramos amigos, melhores amigos, nós éramos namorados. Nos entendíamos só pelo olhar, se eu estava entediada, ele tentava me animar, quando me sentia sozinha, ele me abraçava durante longos minutos. Nos perdemos. Não sei explicar o porquê. Mas nos perdemos, apenas isso. Talvez porque fossemos jovens demais ou porque tínhamos outro objetivos. Foi em uma tarde de julho, ele estava indo estudar na capital, em setembro eu iria morar na Argentina. Possuíamos muitas coisas em comum, mas não conseguíamos ter os mesmos planos para o futuro. A distância não o tirou do meu coração, nem fez com que eu esquecesse tudo o que vivemos juntos, toda a simplicidade que fazia parte da nossa rotina, o carinho que sentíamos um pelo outro. Nada foi apagado da minha memória. Apenas nos perdemos... Mas isso não quer dizer que, talvez um dia, não nos encontremos de novo, com novas experiências e, assim, possamos fazer planos para o futuro. Um futuro a dois.