quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

"New Thought"

Dançaram durante a noite toda
E perceberam que algo nascia
Mas afastaram-se até o baile terminar
O medo havia crescido entre os dois
E nada podia ser feito para expulsá-lo
Perderam-se em dúvidas suicidas
De sentimentos e certezas que pudessem surgir
Ainda que morressem no primeiro instante
E fossem cremadas ao sol
Suas memórias seriam como o pôr-do-sol
Distante e finito
Porém perceberam que a afeição era única
E com a necessidade que atormentava seus cérebros
Uniram-se como lobos no cio
Uivando let it be para lua
Implorando a certeza que teimava em desaparecer
Por dentro de suas almas pecadoras
E misteriosas como a de um escorpião
Desejando a pele macia
Um do outro
Confirmando o Movimento "New Thought"

sábado, 11 de fevereiro de 2012

"O amor de Ana sou eu"

Ana chegou de mansinho e fez minha pressão subir
De madrugada enquanto eu dormia 
Dava para ouvir Ana gemer baixinho as músicas do Cobain
E de sono se despia antes do amanhecer
Tinha vezes que Ana sumia e para eu não enlouquecer
Bebia uns goles de vodca até Ana aparecer
Fazia bico e pedia colo com um rosto angelical
Que de certo modo só Ana tinha igual
Foi com beijos e tapas que me conquistou
Roubando meu carinho e levando aos pouquinhos
Meu pequeno coração
Diziam que Ana ia me deixar
Que em moça dessa idade não dá pra confiar
Mas eu de teimosia
Queria provar para todo mundo
Que o amor de Ana era meu
Uma noite sussurrou no meu ouvido
Je t’aime
E para não perder a oportunidade
Corri até a sacada e gritei para toda a cidade
O amor de Ana sou eu
Voltei para o quarto e avistei apenas o lençol
Ana foi embora mas deixou seu cachecol
Que agora trago em meu pescoço
Enquanto molho com lágrimas de saudade esse papel
Ana se foi e me deixou com o seu amor matreiro
Não se sabe do seu paradeiro
Dizem que fugiu com um poeta de alcunha Tico
E que por ele se apaixonou
Tomara que dessa vez Ana pague por tudo que já causou

*(poesia musicada)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

"I can't fix you"

Era um olhar meio torto, que descia aos pés e voltava
Na queda do Muro de Berlim se fez grande
E tentou alcançar um chafariz – que parecia oceano – enquanto corria
Dormia em bancos, em praças, em ruas, em lagos, na lua
Era, e ser, torto ou reto, já bastava
Tentava, e gozava ao errar o nome das namoradas
Mesmo que puro, noite ou dia, o seu corpo era estação
Sendo estação – estação do ano –, mudava
E, ao ser estação – aquela do trem –, sofria
Uma vez que sentia falta
E, ao sentir falta, sentia dor, e, na dor, achava um abrigo
O corpo, jovem e cansado, era sua casa
Sua esposa, seus irmãos
Correndo, roubando, chorando
Uma vez tentaram consertá-lo, mas não conheciam sua alma
Não conheciam seus medos
Suas trapaças – seu gingado – ganhavam moças
Que surtavam no primeiro porre
E, ao fim, na dor, descobriu que o cabelo, vermelho como o de Thor
Era azul e, desse modo, passou a ver pessoas azuis
E, descobrindo isso, descobriu que as coisas acontecem quando se deseja
E desejou amar
Amando, ou tentando amar, descobriu que nada é eterno
E desejou morrer
E não morreu, pois já estava morto
Desde o dia que o deixaram
Mas respirava
E precisava de alguém que não desistisse
Para ensiná-lo a não desistir de si mesmo
E sonhou
Sonhou em todas as línguas 
E, assim, ouviu: I can't fix you