quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Penélope

O revérbero de um amor que um dia foi anafado, uma condolência particular,
sentir-me desmerecedor daquilo que mais me apetece, procurá-la na multidão, 
encontrá-la no cerne do meu sentimento, observá-la em uma profusão de cores, 
que cromatizam a minha retina, que me intoxicam de morfina.    
Fomos além da realidade que nos cerca, fomos embora da nossa insanidade,
agora deixo dominar-me pela cólera e rememoro cada instante das minhas quimeras.

Encontramos sexo, ardores e odores;

encontramos estrelas, chamas e suores;
encontramos lábios, peles e pernas;
encontrei dúvidas acerca da resposta.
Resposta, esta, que pensei ter descoberto
quando me perdi daquela que havia desnudado
e desnudá-la não era tão fácil (pelo menos para mim).
Eu recitava versos e perdia palavras incongruentes 
nas malicias dos seus olhos (ardentes).
Eu perdi sonhos latentes e, pausadamente, 
senti a sua boca caliente, mais quente que o sol,
arrancar-me por inteiro.
Fumava e abandonava o cinzeiro,
bebia e afundava-me dentro do copo,
gozava e não perdia um segundo de intrigas pessoais
que atravessavam os zumbis da alma.
Quebrei-me em mil pedaços para vê-la sorrir.
Suicidei-me vinte e sete vezes antes de dormir 
e, ao contrário do que pensa, injeto-me as suas sagradas salivas.
O nosso segredo de alcova, ou sexo no aposento,
está latejando na minha alma, está atormentando, com um som agudo,
os pensares do meu pensar.

“Eu amo e quem eu amo é você” – repito trilhões de vezes se for necessário.

Eu sei que é verdade e a realidade que realça 
os gestos indigestos, que percorrem o meu corpo,
clamam pela sua verdade e única sinceridade
duvidável que afogou os meus belos dizeres
nas lágrimas dos meus desconheceres.
Abeirando das veras que adstringem a realidade
dos fatos dos efeitos contraditórios que deambulam 
pelos becos sujos e escuros.
Eu ainda posso vê-la, eu ainda posso observar 
a maneira que ela sorria e o jeito que rolava em minha cama,
eu ainda sinto o seu pulsar, com sorte, pulsando no meu pulso 
e com ares de inconvulso, ou quase isso, infiro o seu clamor.

Quebrando fronteiras nórdicas até findar em uma planície de azulejos

azuis e riscados; sentindo o vento rasgar a face; absorvendo todos os 
pecados do cosmos; curvando-se aos vikings que vomitam tolices aos mares.
Homicidas-suicidas que dilaceram esperanças perdidas dentro da Caixa de Pandora.
Idas e vindas que doam destinos perpendiculares aos órgãos sexuais dos aflitos.

Apego, afeto, benevolência, desejo, etecetera...

Seja o que for, seja meu, seja amor, seja real!
Seja uma inclinação ditada pelas leis da natureza 
ou seja o meu poder espiritual,  o meu fantasma!
Seja um enigma, tenha causas ocultas e resida em Elêusis,
Tudo vale, em tudo há recompensa, diga sim às espórtulas
e veja, ao léu, os dizeres dos covardes que rogam
por ausência de contato entre um corpo eletrizado e os corpos vizinhos,
à noite, à tarde, e tudo o que é belo e foi furtado da realidade dos fatos,
o que me intriga, excitando minha patente, são os lapsos das medidas
de duração dos fenômenos que espicaçam a exatidão do raciocínio.
Certo ser humano intentou empreender um raciocínio além da existência
efetiva de certos aspectos incoerentes que sinalizam uma verdade incrédula,
bem como um versado sujeito, que se considera matreiro em tópicos cedidos,
perdeu-se em ruelas sem saídas, perdeu-se em seu próprio lar.
Não tenho credibilidade em posições geográficas que resvalam veracidade das cousas
que invocam como: estrupício – e nada além disso.

Retorno ao ponto de partida dos meus sentimentos, que se confundem com

medos e calafrios; Volto aos meus desejos e aos meus apegos-desapegos
para tentar reviver aquilo que vivi em minha vida sem realmente ter vivido.
Aprendi coisas sobre a alma com o raciocínio que habita meu ego,
confirmei mudanças de ciclos e dores musculares que surgem 
por culpa de noites mal dormidas e vontades reprimidas.
Observo, dentro de mim, Penélope amando-me; depois levanto as pestanas e entristeço,
recordo quando ela afirmava que os meus olhos tristes eram os mais encantadores
que já havia mirado; dizia, outrossim, que o meu olhar 
exibia lúgubres lamentos e que, ao mesmo tempo, expressava 
a doçura que eu possuía na alma.
Falou-me das vezes em que me observava dormir e que sempre encaixava-se 
perfeitamente na minha respiração; também contou que, em todas as manhãs
que sentiu meus beijos desesperados, reduzia-se a fragmentos e que, 
dessa forma, carecia de lucidez por intermináveis segundos que pareciam séculos.
Jurei cem vezes que a amaria eternamente e que o nosso amor, oblíquo e imperfeito,
cruzaria o espaço de tempo compreendido entre o nascimento e a morte.
Não pretendo ser circunspecto com relação à vida, à morte, ou o diabo a quatro;
Porém, ao falar que o nosso amor atravessaria as barreiras dos batimentos cardíacos,
apresento  o meu “eu” – não religioso – convicto de que há algo magno acolá 
do corpo celeste que habitamos;  apesar de sempre fugir do paradigma wicca 
que Penélope tentava injetar, de maneira frenética, em minhas veias, 
eu (constantemente) cismava que esse troço de bruxaria era algo inefável;
do mesmo modo que toda essa dúvida existente em relação ao divino celestial.
O difícil em possuir uma persuasão íntima acerca do divinal (seja lá o que for)
é que, toda essa exposição de particularidades relativas ao Criador, nos remete
aos fatos do passado da humanidade que foram deflorados por todos aqueles 
que se incumbiram a introduzir,  no entendimento humano, o cristianismo;
Enfiaram, durante séculos, na cabeça de (quase) todos os homens que 
um livro sagrado trazia palavras de um ser – narcisista – supremo;
Crença, convicção, fé, persuasão, tudo isso vai além daquilo que pode ser
caracterizado, tudo é entorpecente, leva ao êxtase, um fluido magnético,
uma energia misteriosa que permite uma atração irresistível por tudo que 
for suscetível a júbilos meditativos – e, para determinadas pessoas, incongruentes.
Entre mil e uma convicções religiosas, entre diversas realidades humanas,
entre verdades e mentiras, há o poder exclusivo do intelecto de diferentes 
criaturas humanas, e essa força, que é expelida pela mente de cada homem,
tem a capacidade de representar laconicamente a existência efetiva 
de um espaço sublime e abarrotado de encantamento, deleite, altamente 
enlevado e embevecido por uma vivência significativa que estimula emoções;
São as hesitações em expelir as nossas próprias verdades que dificultam 
o caminho até esse patamar enaltecido por uma supremacia mágica;
E, nas minhas verdades, sinto uma nostalgia eletrizada acerca do meu passado;
Surgem recordações, deste amor perdido, que trago a vocês que estão lendo
esta minha tentativa de algo; Lembranças que jamais serão olvidadas, saudade 
com cheiro de Penélope e gosto amargo de um café extraforte que deixei umedecer
as tristezas recolhidas em meu peito; Se pudesse recitaria versos ao léu 
(ou no ouvido daquela que amo); Seriam versos para fazê-la crer que creio em algo, mas, como não sei fazer versos convincentes, deixarei aqui a minha verdade a ela,
porque talvez um dos meus leitores seja aquela que me roubou a solidão 
e devolveu-me a esperança de qualquer coisa, então, caso esteja lendo-me, 
meu bem, lembro que o meu ponto luminoso está amalgamado ao seu, 
e isso é indiferente ao sincretismo que pode parecer existir; Caracterizam-nos 
por falácias, sobrevivemos entre discursos capciosos e, apesar de sermos lobos 
duvidosos, cremos no Samsara, em uma roda de transmigração, 
com sabor de aventura espiritual, vivemos em histeria infinita 
e dentro de uma imaginação erudita que se perfaz tenebrosamente prazenteira. 

Perdoem-me por estas palavras tristes, por toda esta barafunda que apresento a vocês,

desculpem-me por toda esta incerteza que me cega, pois estou em uma fantasia 
de anarquias, cobiço tumultos e toda forma de desregramento, ambiciono teorias 
anti-poderes-absolutos, desejo liberdade de desejos a todos aqueles que fogem 
dos próprios anseios, e também me perco em questões de socialismo de penúrias.
Fazer parte de um estado dúbio, de uma nação de ardilosos, viver entre velhacos
ludibriados e simular um sorriso forçado é a decadência da individualidade consciente.
Esse derrotismo deixa-me em consternação total, uma vez que me encontro 
em um estado pessimista-desatinado que necessita de mais desordem proveniente 
de Caos para que talvez me sinta parte dessa debilidade mental que me atormenta.

Difundido em gulosas extremidades do ego dos néscios;

Aproximando o interstício que abduz as moléculas;
Extraviado na labuta diária de diversas concepções necessárias,
que dispersam tropas inimigas do controle e continuam fecundando
incomensuráveis vezes; ou perdem o sustentáculo do inconsciente,
tornando aquilo que chamam de pusilanimidade em ardor de sentimentos.

Uma busca infatigável,

um ponto inatingível,
uma dor incurável,
uma medida desmedida,
um momento esquecido,
um amor homicida,
um poeta sucumbido,
uma bailarina célere,
Sexo no belvedere.

Desesperados que estrompam a plenitude das sensações,

alucinados que oscilam ansiosamente sob o firmamento,
desvairados que exaltam a própria insanidade; anamnese a duo.
Há um pretérito imperfeito de negociações que desarticulam
os fidedignos saberes que adquirimos com o escoar 
da medida de formação dos fenômenos. 

Aceitar essa corroboração de conhecimentos sobre desalentos que molestam a vida,

perder lembranças que relumam em máculas tingidas no firmamento,
reparar escolhas do passado com veemência e distinta curiosidade,
para encontrar um horizonte rutilante e que me torne em um estroina 
sem medo de esputar libido momentânea às ventanias da vida.