domingo, 3 de junho de 2012

Marx


Você é, para mim, uma nova pesquisa
Sobre discos de blues do século passado
Que, por mais sujos e riscados,
Não escondem as suas reais aparências
E, nas madrugadas, embalam as conversas
Dos solitários que frequentam a “Rua da Tristeza”.
Sento em um canapé, enquanto você molha a bolacha no leite
E pergunta se parei de tomar remédios para dormir,
Eu respondo: sim, você me influencia.
Ensinou-me, com essa mania de não levar o amor no bolso,
Mas, sim, no peito, que as pessoas não podem fingir ser frias,
Principalmente, quando estão “inlovinho” (apaixonadas), porque isso não é proteção,
Mas falta de coragem – e coragem não me falta (ou falta?).
Porém, no âmago do sentir, enquanto escrevo em um pedaço de papel amassado,
Percebo que você se esconde, talvez para aumentar o mistério, e depois
Surge, assustada, e sussurra: eu que mando, vai embora...
E, outra vez, vou dormir sem lhe desejar boa noite.
Você foge e eu corro atrás, tentando imitar a cena
De um filme que assisti na semana passada, mas canso
E grito algumas palavras feias e, essas palavras, sempre resolvem,
Pois você volta, irritada, e diz que não posso falar assim.
Penso que você é um presente, o mesmo presente que Marx nos deu
Com a sua filosofia, mas recordo, lentamente, que você é Marx, não Karl,
E, sim, Marcella, a minha amiga que não come brócolis.
Então, penso em convidar você para tomar um chá,
Só que você não gosta de chás, e fico sem saber o que fazer.
Digo: you are my only one – e você diz que eu falo isso para todas,
Respondo: não – mas no fundo você sabe que eu falo, e eu sei que você sabe.
Sinto uma saudade elástica de você e acho que isso pode ser um problemão,
Aquele tipo de problema que, de tão grande, não tem solução.
Tento ver pelo lado positivo e, mesmo assim,
O problema – que é gigante – continua sendo um (enorme) problema.
Bebo como nunca bebi antes;
Você me chama de alcoólatra e reclama do meu cheiro de vodca,
E da minha falta de banho, mas é inverno e eu não posso solucionar
Esse problema – outrossim, tudo fica recíproco, pois você também não soluciona
Aquele problemão que se chama: saudade.
E é isso que eu sinto quando você não está.