quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Solitários



a tua solidão esbarrou em meu dorso
e embaraçou a minha brandura campesina
com a tua eletricidade isolada e todo o teu ardor


a minha solidão esbarrou em tuas costas
e se emaranhou em teu entusiasmo solitário
fluindo entre a minha prosa e a tua nueva trova


as nossas solidões se esbarraram em um corredor
qualquer e quem diria que duas criaturas sozinhas
neste tempo e por este ar iriam se esbarrar tão bem

como nós fizemos

as nossas solidões se esbarram todos os dias

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Au revoir, Silêncio!



Olá, Silêncio! Quero dizer-te que o teu
emudecimento já não me causa aquela
aflição que costumava causar.
A tua frieza – que me apresentou a Anteros:
o símbolo do amor desgraçado – não mais
afeta a minha sensibilidade nem aniquila
o escárnio romântico que há neste arcabouço
desatinado.

Boa morte, Silêncio! Quero que o teu óbito
sejas embatucado e sem rusgas de fim de festa
de amores foscos de amantes bestas.
Declaro-te que o teu afago silente – e ainda assim
destroçador – já não me incita a desejar-te aqui
e que a tua magnética apatia não mais suscita
qualquer espécie de nostalgia ou de necessidade
de retiro.

Au revoir, Silêncio! Escrevo-te o teu letargo
devido a este desencargo que me tomou
e me tornou em um sarau de poesia
que não mais se chama Saudade
nem transborda melancolia.