sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

poema amarelo

se estou agora abstraída é porque ele me leva aonde vai
mas ele não vai a lugar nenhum e somente fica a me observar
e assim permanecemos inertes por um curto longo período
sentindo as antigas barreiras criadas por equívocos pungentes
desmoronarem como o muro de berlim no início de sua queda
na noite de nove de novembro de mil novecentos e oitenta e nove
absorta recordo-me do que fiz e de todos aqueles sentimentos
que não demonstrei e logo dissimulo olhares e reproduzo cenas
de filmes e tudo se torna bonito e ao mesmo tempo tão clichê
que acabo por não saber se é real ou apenas um universo utópico
eu sei que é tudo amarelo por outra vez porque ele me guarda
em seu abraço e não me esquece ao chão ou olvida os versos rotos
que declamo despidos à sua mouca malsinada perene audição
e se me findo em seu amor é porque nele há uma libido extrema
e uma doçura tão amena pois me compara a helena de troia
e me furta com estrofes singelas e com toda doçura de seus lábios
que dizem: look at the stars look how they shine for you
então respondo: I swam across I jumped across for you
e sei que é tudo amarelo por outra vez num recomeço pacífico
e poético com palavras afáveis e rimas pobres e rimas nobres
haicais magnéticos que me levam ao interior de um cofre 
em que me deito junto ao meu estro poético enxofrado 
e escrevo... escrevo... escrevo... sobre ele que era tão poeta 
e que por ser assim ao fim em poema se transformou 
e por outra vez eu vejo tudo amarelo e permaneço absorta 
e permaneço abstraída e permanece amarelo

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

alucinações causadas pela cafeína

I

tomo uma xícara de café às 3h
e escrevo três versos de poesia
de péssima qualidade sobre
mentiras que atravessam
as minhas vidraças

penso: gostaria de ser alguém que não existisse

mais café às 4h
e pergunto-me se toda
essa decadência é para doer
e se a cafeína ainda fará efeito

interrogo-me: devo remover-me de mim?


II

acredito ser como alice ayres
com uma pitada de anna cameron
e sinto-me perto demais de verdades
ilusórias e falsas realidades de qualquer
estória

desejo: não exista memória!

observo-me em um antigo
espelho oval e vejo diversas
cores em meus cabelos
como se fosse clementine
kruczynski em distintas
épocas do ano


III

em exóticas situações diárias
com plebeus de praças e anões
de jardim em diferentes espaços
do mundo
na sala

há retratos de juarez machado
e cores vivas mortas de tédio
penduradas no meu altruísmo
solitário
tal qual amélie poulain


ao fim: haverá outro velho novo dia amanhã.