domingo, 25 de outubro de 2015

White Curd

This is the green horizon
This is the gray sky
This is my sad song


But it’s a perfect afternoon
Just this horizon
Just this sky
Just the white bird
And the white curd
Just me
My last sad song


This is the green horizon
This is the gray sky
This is my sad song


This song is for the lonely boys
For the lonely girls
For the single mother
No father


This is the green horizon
This is the gray sky
This is my sad song


This is my song for my strangers
My loved ones
My poet
Who died for poetry
My last sad song
To my mother
Mother Earth and to the Universe
And more, and more, more
Just this sky
Just the white bird
And the white curd
So sad

Visão púrpura

Visão púrpura: quando Orfeu reencontrou Eurídice nos Campos Elísios; quando Eurídice devolveu a Orfeu o olhar que ele havia perdido.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O inefável universo dos adoradores de chá

Havia resquícios de sentimentos dentro de seus livros. Havia resíduos de amores no interior de sua gaveta de meias. Sobejavam partículas de macróbias confusões sentimentais pelos corredores de sua casa. Ao lado de cinco pequenos vasos de margaridas, que estavam sobrepostos em uma estante de madeira de carvalho, existia um antigo espelho oval, no qual podia se ver refletida em uma remota imagem cândida. Silenciosamente lívida abriu suas portas para que seu Anjo-amor adentrasse musicalmente. Ele entrou em seu lar e caminhou sem pressa pelos cômodos, apagando os fragmentos de velhas consternações ignóbeis. De modo inefável, sem prescrições galênicas, ele preparou um chá de canela para que ambos pudessem absorver as doçuras do fado. Após navegarem pela magia líquida do chá, trocaram pacíficas palavras de devoção e recolheram-se à alcova. Durante o sono, sonharam juntos e acordaram para dentro. Reconheceram-se no interior de cada um. Nunca mais deixaram de sonhar.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

luz ao frodo

teus dedos
selados
nos meus


teus lábios
sanguíneos
nos meus


teus selos
sinetes
nos meus


teus pés
sambando
nos meus


teu sorriso
sereno
no meu


teu corpo
suado
no meu


teu porto
seguro
no meu


teu afeto
silêncio
no meu


meu apego
segredo
no teu


nosso amor
sufrágio
meu e teu

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Sagrado: jornada de luz

A. escrevia centenas de artigos para atingir um antigo anseio. J. lia diversos livros ao mesmo tempo e se via no meio de uma multidão de seres escritos. A. e J. navegavam juntos. No interior de um barco furado, sonhavam imagens matizadas e engendravam uma nova terra para chamarem de lar. Enquanto a água atulhava o pequeno barco, os dois se amavam nos detalhes. A. cobria seus olhos claros com lentes embaçadas. J. mostrava seu olhar castanho através de lentes limpas e grossas. Sem toques. Sem vozes. Só vistas. Olhares se confundiam. J. e A. deixavam suas portas abertas e trocavam seus desejos por acordes de luz. Meditavam: amados. Descobriram o caminho e iniciaram a jornada de redenção. Dormiram anjos. Repousaram cosmos. Despertaram sagrados.

domingo, 11 de outubro de 2015

Amor: apocalipse redentor

O apocalipse havia começado e J. disse precisar novamente de um espaço subterrâneo. H. se cansara de subterfúgios. O diálogo foi contido. O sentimento estava tíbio. Não havia humanos vivos na cidade cinza. O vento chegara sem timidez. J. deixou Flaubert de lado. H. intentou uma farsa para afagar seu ego aborrecido pelo desamor de J. O abatimento se misturou com as rachaduras do chão nos dias apocalípticos. J. arranjara um sexo melhor para terminar sua existência terrena. H. não se conformava. J. poderia dividir seu corpo em dois e agradar H. e V. Um entenderia. Outro queria ser único. H. engendrou palavras de amor maquiavélico. J. ouvi-as em uma frase tragicômica. Negou-as. Deitou-se com V. No interior do tornado escatológico, H. cuspia seu amor em ódio. Amava até odiar, odiava até amar e não se perdoava por não deixar de amar. H. telefonou nos minutos finais com a intenção de humilhar J. H. não percebia que J. já sobrevivia entre uma cortina transparente de humilhação: J. não sabia amar por muito tempo. J. esperava encontrar seu amor redentor antes do final dos tempos. O tempo andava apressado demais para esperar pela redenção de J. H. perdia seu tempo tentando ferir seus amores criados. V. vivia sua leveza psicodélica fazendo cálculos e sujando suas mãos. Formou-se no céu um escrito em inglês (para ninguém ficar de fora): the end! J. correu oito quilômetros sem parar e, quando atingiu uma rua referta de árvores cinzas, avistou A. lendo Flaubert sob as folhas pretas. Escureceu.

Regresso: paradoxo temporal

J. disse precisar de um espaço subterrâneo. H. precisava de mais tempo. J. desceu os degraus até o sul. H. comprou duas caixas de medicamentos. Nos primeiros dias de outubro, as cores não surgiram como de costume no hemisfério sul. Nos dias seguintes, a cidade dormia em preto e branco. J. ainda estava no porão. H. quebrou todos os relógios que havia em casa. As calçadas do bairro eram cinzas. As árvores estavam secas. Ninguém compareceu ao funeral do prefeito. Alguns anos depois, sem marcadores de tempo, J. subiu os mesmos degraus, que o levaram ao sul, e saiu do recinto familiar sem dirigir suas pupilas a H. Ainda era outubro. Ainda não havia cor. H., que estava mergulhado em água com analgésico, se perguntava o horário. J. sentou-se em um banco cinza da praça negra. H. contava as facas e os garfos na cozinha. Alguns anos se passaram e não contaram o tempo. Outubro ainda doía. H. já tinha um filho. J. respondia por tentativa de homicídio. Numa tarde cinza, a cidade sem cor se viu coberta por um céu anil: J. foi absolvido. H. não precisava de remédios. D. completou onze meses de vida. Era setembro.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

perdida nesse
caos
nós
o avesso desse
céu
seu
meu pecado nu
lençol
sol
perdido nesse
caos
nós
dois extremos e

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Apoema

No meu pequeno pedaço de terra
que outrora foi desmedido e verde
ainda permanecem vivas as chagas
produzidas pelos coléricos do norte.
Neste corpo juvenil e neste espírito
ancião, expressivos, vigorosos, há
os traços dos pecados ditos sagrados
feitos pelos santos do eurocentrismo.
O meu sangue escarlate, os milênios
destruídos, as crianças recém nascidas,
as mulheres violentadas e os dízimos já
pagos ao sacro euronarciso vazam de
meus vasos nativos, humanos e divinos.
No meu peito aborígene, na minha face
terráquea, na minha alma cósmica, sem
divisão de vidas, eclodem sentimentos
inefáveis que cicatrizarão as feridas
ainda abertas neste pequeno pedaço de
terra que outrora foi desmedido e verde.

Apoema: aquele que vê mais longe.