domingo, 26 de julho de 2015

paredes beges

quando desatava os teus nós de solidão
e te amarrava nos meus olhos de tristeza
você não me dizia tudo o que sentia
quando te encontrava empinando
mil pandorgas com os pequenos
o vento carregava meu aceno até você
que não me compreendia
hoje ainda canto que te faria um tapete
branco de crochê e te leria hilda nua
mesmo que não me pedisse
eu te mostraria o vermelho dessa vida
mas sem teus jornais no fundo do baú
sem tuas roupas no meu guarda-roupa
só me resta uma varanda vazia
mais uma vida sozinha
paredes beges pintam a cena
no tempo dos ponteiros do relógio
e numa cadeira de madeira e de palha
meus velhos livros adormecidos
ficam os meus discos colados
no pó e pendurados numa parede
só até me sinto bem melhor
do que quando me vi numa falsa
tela de tevê sentada sobre uma mesa
sob um lustre amarelo condenado
algumas pessoas bitoladas jantavam
enquanto eu te escrevia do meu jeito
porque não te percebi de outro jeito


*música

quinta-feira, 16 de julho de 2015

sobre tapetes de crochê e tela de tevê

encaixo-me naquele tipo de
pessoas normalmente estranhas
que se sentem apenas solitárias
esquisitas como plutão quando
a sonda new horizons passou
deixando-o singular para trás

sinto-me fria como os granizos
que despencaram no teu telhado
e te perturbaram com o mesmo
frio que te tirou o sono quando
nevou no verão de nosso quarto
ocultando nossos tapetes de crochê

hoje ainda me escondo de tudo e
de todos sem descobrir o porquê
sem acender as minhas luzes ou
aumentar os meus volumes para que
não possam me ver nem me ouvir
imóvel em uma falsa tela de tevê 

pequeno pedaço de sentimento notívago

nestes gelos, que caem sobre
meus dedos e me congelam
as letras – que deveriam sair
e morar em algumas amarelas
folhas de papel –, observo uma
questão que surge subitamente
qual é mais frio: o inverno do ano
ou o inverno da alma? há resposta.

imóvel permaneço recordando
meus olhos que moram nos seus,
e confirmo que para mim sempre
foi tão difícil escrever sobre você,
porque você me dói em cada parte
deste corpo, e se demora em meus
pensamentos como aquela visita
que fica e nunca mais vai embora.

eu não sou uma pessoa normal
que sente os sentimentos, pois
esta estranheza me faz sofrê-los
sem ter um porquê. eu sofro o
amor, como sofro a saudade,
como sofro qualquer coisa
que me faça sentir você.
eu sofro você.