sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Sem título

Éramos mais que um inteiro, éramos uma só alma, um corpo único. Significávamos muito um ao outro. Você era um anjo que me fazia sentir nas nuvens, era um príncipe de contos encantados, tudo parecia ser um sonho e ao mesmo tempo era tão real. Cresci ao seu lado, aprendi a amar e respeitar os sentimentos. Você descobriu que também podia amar e ser amado, eu sei disso. As horas que passei junto a você se tornavam segundos, pois não podia ver o tempo passar, seu olhar me hipnotizava, seus lábios me chamavam e eu permanecia com a respiração lenta, quase parando. Ainda lembro, mas lembro como se fosse hoje, noites que não conseguia dormir pensando em você, a insônia era minha única companhia nas madrugadas em que os meus olhos não se cansavam de olhar nossas fotos, aqueles minutos eram intermináveis para mim, não havia razão se você não estava ali. Quando eu via você se aproximar, meu espírito se desprendia do corpo, minha boca secava e tudo ao redor se apagava. Só via você, só sentia você, sua voz me trazia de volta ao normal. Seus graves misturados com os agudos que apareciam somente na metade das frases, eram como melodias suaves aos meus tímpanos. Seu perfume era de um doce forte que entrava em minhas narinas e se inalava ao meu sangue, seus gestos simples, seus traços marcantes, seu abraço gentil e o seu sorriso que me soava como um “eu te amo”. Éramos perfeitos um para o outro, éramos felizes, tenho certeza disso. Mas acabou. Não consigo entender... Talvez não queira entender. Não há porque razão de aceitar isso! Tudo era tão divino e puro, um amor tão justo e leal, pelo menos de minha parte... E acreditava que de sua também. Sim, tenho certeza que tudo foi sincero, mas sempre acaba. Não, realmente não penso assim. Acredito que se chegou ao fim é porque não era você o verdadeiro e sincero amor. Você não era o meu destino. Por isso hoje vivo perdida a espera de algo que me traga a esperança de poder amar novamente. Nada mais importa, nada mais faz sentido. O que passou eu já esqueci ou pelo menos finjo.

2 comentários:

  1. Do Caos, segundo Hesíodo, nasceram Eros e Gaia. Caos como potencialidade, Gaia como matéria do Universo e Eros como princípio do movimento. Porém, para o Panteão Romano, Eros é Cupido, Deus do Amor. Isso me remete a um texto recente no qual escrevi que a alma do corpo era o sangue e que devíamos nos contentar com isso. Traçando uma linha entre a mitografia básica que esbocei acima e o seu texto, não vejo solidão escorrendo por dentre ruas repletas de olhares repressores, inquisidores daqueles que sentem. Vejo franqueza demais quanto aos pulsares do coração, movimento demais para suportar o julgar sempre indolente dessas retinas de foice e cadafalso. Mesmo assim seu texto não é esconderijo, pois, franco que é, sabe que a única autópsia dos sentimentos é o fermento daquilo pelo que sofremos. A dor com certeza permanecerá, distante dessas relações consumidas pelo consumo que vicia e torna objeto a face de qualquer corpo ou boca. Contudo, o que sangra e o que vale é uma narrativa/confissão/ficção plena de poesia, na qual a ausência é a presença da própria dor que se esvai, assim como se esvai o movimento e a potencialidade para os amanhãs para que você ou a personagem que você criou, recaiam no Abismo que precede o Caos para enfim emergir um Universo contido unicamente nas suas palavras - ou quem sabe em matéria de si mesma no eterno porvir daqueles que sabem que a vida, heraclitiana que é, não está para um poço, mas sim para as pedras de um rio que jamais cria limo, que jamais é estagnação, que sempre é movimento, ainda que martirizada pela perda das infinitas discussões do coração. O destino tem um único destinatário e um único remetente: nós. Portanto, dele façamos entardeceres e anoiteceres de futuro moldado pelas nossas mãos plenas de sentir e sabor. Um grande abraço. Eduardo Matzembacher Frizzo (do blog http://insufilme.blogspot.com/).

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