domingo, 20 de janeiro de 2013

Chico: o queridinho dos anos de chumbo


Chico Buarque de Hollanda é conhecido por suas belíssimas composições e também se tornou um dos expoentes da Música Popular Brasileira, mas, além de compor músicas, Chico escreveu livros, que lhe renderam alguns prêmios, e peças teatrais. Ademais, durante os anos de chumbo no Brasil, ele foi constantemente perseguido e ameaçado pelo regime militar, dessa forma se auto-exilou na Itália no ano de 1969.

Várias formas de arte, que criticavam a realidade da época, foram proibidas durante a ditadura militar. Chico Buarque teve muitas canções censuradas, tendo em conta que as suas composições faziam alusões à falta de liberdade de expressão e outros problemas enfrentados naquele momento histórico. No período em que a censura perdurou, Chico foi o compositor e cantor que mais teve letras censuradas. Os problemas dele com a censura iniciaram em 1966 quando a música “Tamandaré” foi proibida por conter frases ofensivas ao patrono da marinha.

“Apesar de Você” foi uma brilhante composição do Chico e, a meu ver, uma das músicas mais gostosas de ouvir, é a legítima música feita para cantar, com emoção, do início ao fim. A sua letra ácida retrata a realidade brasileira durante o regime militar. Quando foi lançada, primeiramente em 1970, logo foi censurada pelo governo do general Emílio Garrastazu Médici e foi liberada somente oito anos mais tarde.

A música “Cálice” foi censurada antes mesmo de ser lançada, uma vez que todas as letras, livros, textos, entre outras produções da época, eram obrigadas a passar pela censura federal. Esta composição, que foi realizada em parceria com Gilberto Gil, apenas pode ser propalada em 1978. “Cálice” fazia uma alusão à censura do regime por meio da sua semelhante sonoridade com a expressão “cale-se”.

Francisco Buarque de Hollanda estava cansado de ser o alvo preferido do regime militar, então criou o pseudônimo Julinho da Adelaide e compôs três canções, porque, usando desse heterônimo, a censura, sem perceber as críticas inteligentes, deixou passar todas as suas letras, sendo estas “Jorge Maravilha”, “Milagre Brasileiro” e “Acorda Amor”.

Uma canção que não foi censurada, mas merece destaque é “Meu Caro Amigo”. Foi uma carta musicada feita em homenagem ao dramaturgo Augusto Boal, que era um grande amigo do Chico. Foi composta juntamente com Francis Hime e lançada em 1976, foi uma espécie de desabafo, de ambos, acerca da situação do Brasil nos anos de chumbo.

Outras músicas e, também, peças teatrais compostas, na época, por Chico Buarque foram censuradas, quando não eram proibidas completamente, havia censuras em partes, frases, palavras. O regime militar tentava de todas as formas mutilar a liberdade artística e até mesmo acabar com independência dos “pensares” e “quereres” do povo brasileiro – não adentrando no assunto “ditadura militar” (com letras minúsculas), porque não foi apenas “mutilar a liberdade e independência do povo”, uma vez que também mutilaram o respeito físico e emocional das pessoas que lutavam contra o sistema daquele tempo.

E o final? Todos já sabem. E o Chico? Coitadinho do Chico, ele foi o queridinho dos anos de chumbo.



(Publicado primeiramente no blog RETRODERNO.)

Geração Beat


Ocorreu, neste ano, o lançamento do filme “On The Road”, do diretor brasileiro Walter Salles, fazendo com que, novamente, a Geração Beat permaneça em alta ou, pelo menos, por um bom tempo, na boca do povo. Porém, apesar do Movimento Beat ter perdido a força originária, ainda existem milhares de beatniks perdidos pelo corpo celeste que habitamos.

Beat Generation foi, sobretudo, uma revolução cultural por meio da literatura e outras artes, mas principalmente pela escrita. Jovens norte-americanos, entre as décadas de 40 e 60, resolveram acabar com a insipidez que fazia parte das suas rotinas, abraçando uma vida repleta de sexo grupal, drogas, viagens, boinas, roupas pretas, boemia, jazz e bongo. Outrossim, foi um movimento literário anti-materialista, considerado um tanto subversivo, sendo que várias obras publicadas na época, por diversas vezes, foram censuradas.

Os beatniks eram intensos em tudo, não apenas na escrita ou no abuso de drogas, mas na maneira de observar os pormenores da vida, no modo como refletiam acerca de suas ideias, paradigmas, sistemas filosóficos, etc. Escreviam compulsivamente e de forma caótica, bem como apoiavam a liberdade de expressão, a igualdade, o respeito às diferenças e repudiavam todo tipo de preconceito.

O seus expoentes foram: Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs e Gregory Corso; que influenciaram músicos como Bob Dylan, The Beatles e Pink Floyd. As produções literárias, que todos devem ler, do Movimento Beat são: Pé na Estrada, do Jack Kerouac; Uivo, a típica “poesia marginal” do Allen Ginsberg; Almoço Nu, do William Burroughs; e Casamento, do Gregory Corso.

Fazer parte da Geração Beat é estar em movimento, é poder expressar livremente as verdades que estão guardadas no intelecto de cada um, é ver o mundo além do cosmos e viver a vida acolá da realidade. Por isso, a Beat Generation deve ser respeitada e cultuada por todos, uma vez que é um jeito de levar a vida com mais veracidade interior, bem como com menos falsidade e futilidade.



(Publicado primeiramente no blog RETRODERNO.)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Identidade


Lembro-me dos tempos em que me afogava
na anatomia alheia e bebia todo o néctar
que era oferecido ao meu paladar.
Eu era triste e talvez vazio
mas não tão melancólico como sou hoje
nem possuía o mesmo olhar sofrido e boca trêmula.
Meus livros não eram tão empoeirados
e a minha saúde não era frágil.
Refletia paixão em minhas poesias
e orgia em minhas noites
frias ou quentes ou chuvosas.

Tentei duas ou três vezes
mantê-la por perto
mas sequer consegui
guardá-la em mim.
Não existia uma gota de amor
ou qualquer outro sentimento além de tristeza
dentro do meu ser.

E percebi tudo isso agora.

Quando descobri o abismo
entre viver e apenas sobreviver
guardei os meus discos do Chico
e nunca mais cantei Singin' in the Rain
mas não parei de escrever.

Porque sou poeta
e poeta não deixarei de ser.