Lembro-me
dos tempos em que me afogava
na
anatomia alheia e bebia todo o néctar
que
era oferecido ao meu paladar.
Eu
era triste e talvez vazio
mas
não tão melancólico como sou hoje
nem
possuía o mesmo olhar sofrido e boca trêmula.
Meus
livros não eram tão empoeirados
e
a minha saúde não era frágil.
Refletia
paixão em minhas poesias
e
orgia em minhas noites
frias
ou quentes ou chuvosas.
Tentei
duas ou três vezes
mantê-la
por perto
mas
sequer consegui
guardá-la
em mim.
Não
existia uma gota de amor
ou
qualquer outro sentimento além de tristeza
dentro
do meu ser.
E
percebi tudo isso agora.
Quando
descobri o abismo
entre
viver e apenas sobreviver
guardei
os meus discos do Chico
e
nunca mais cantei Singin' in the Rain
mas
não parei de escrever.
Porque
sou poeta
e
poeta não deixarei de ser.
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