sábado, 14 de março de 2015

Nativo do Ar

confesso ter sorrido ao saber que Ar é teu elemento e
que – como eu – tu não te prendes ao chão e ao mar
que tu és leve como uma brisa ou violento como um
tornado e que ao amar tu idealizas diariamente e tu
descobres outro sentimento idêntico ao que sentes
admito gostar da nossa espiritualidade fundida ao
nosso equilíbrio e à nossa inteligência nuclear e
assim assumo minha preferência por seres que

voejam freneticamente nus através de nuvens de revoluções
deixando para trás todos os estereótipos e todos aqueles
bitolados – que se autointitulam doutos – com seus chavões
pejorativos

pairam com suas plenitudes ocupadas por diversos mundos
exaltados por beleza e intelectualidade estudadas a fio
por gêmeos em aquários repletos de libras equilibradas em
balanças

sinto-me entre silfos e comparo-te a Paralda
declaro-me fidedigna nativa do Ar
e peço que tu estejas no ar e que  tu observes
do alto e que apenas desças comigo
ao solo e aqueças e umedeças quando estiveres
nu
sobre
mim

segunda-feira, 2 de março de 2015

Minha alma erótica deitou-se sobre um lençol cândido

Eu tenho a alma erótica – como quis Adélia Prado –, e
possuo lembranças exaustas escoadas em leitos carnais,
e assinaladas em cenas de filmes, em trechos de livros,
em refrãos de músicas, entre budistas, xamanistas, faraós
e católicos fervorosos, vindos da Toscana, todos seres
humanos joeirados erroneamente por uma libido fundada
nas edições de Pauvert. Eu sou características do feminino
e orgulho do ovário no orvalho dos rugidos machistas,
esforçando-me ao lado de Simone de Beauvoir, Anaïs Nin,
Zitkala-Sa, Frida Kahlo e de outras aguerridas irmãs.
Sou o beijo dos amantes de René Magritte, sufocada pelo
lençol do romance passado, asfixiada pela negação do amor,
surrada pelo desejo casto, torturada pelo sentimento puro,
explorando os fulgores de minha eterna alma erótica, mas
revisitando pensamentos nostálgicos que me guiam ao
habitante uno de meu músculo cardíaco: eterno pudico.
Aquele que desconhece Eros e que se encontra em Ártemis
é quem intriga meu espírito lascivo, conservando meu estro
poético, que, em trinta anos, ainda poderá poetar sobre Ele
e sua candura. E isso será lacrimogêneo, pois terá sua perene
doçura e minha alma erótica dissimulando o amor. E haverá
novos cristãos da Toscana. Alguns com longos cabelos claros.
E restará o beijo dos amantes de Magritte. E o lençol dos
amantes de Magritte. E o lençol (limpo) do romance (casto)
do passado (sujo) de uma sempi(terna) alma erótica.