terça-feira, 22 de março de 2011

Auto-Libertação

Havia se tornado três faces depois de, consequentemente, ter sofrido pressões e decepções. Uma diluída pela desilusão, outra ferida pelo desafeto e a sonolenta, causa dos caminhos traçados. Não sentia, apenas respondia com o olhar cansado. As pequenas pestanas balançavam como se estivessem em guerra consigo mesmas. A dor estava presente e as lembranças quase não existiam.
Poderia ter sido diferente, poderia ter feito outras escolhas...
O sorriso poderia ser constante, mas optou pelo suicídio. Não ingeriu dúzias de comprimidos, apenas desistiu.

Outono austral

Nos últimos dias tenho tentado falar com você, mas não consigo. Meu orgulho é meu dilema, minha dor é a sua ausência e a solidão apenas uma companheira. Ela me disse que o verão seria longo e que as tardes ensolaradas somente esquentariam minhas mãos geladas. Odeio o sol. Você amava calor, praia e bossa nova. Eu amava rock’n’roll, chuvas prateadas e você. Escrevi dezessete textos desde o último dia que nos falamos, apaguei todos. Ouvi nossa música tantas vezes, ao passo que lia e relia Fernando Pessoa... Apenas uma tentativa furada em tentar lembrar e esquecer você ao mesmo tempo. Hoje não passo de um magricelo, pálido e despojado, que gasta suas únicas horas livres em porres e lágrimas, por sentir tanto a sua falta. Você tocava minha alma, beijava meu corpo e sussurrava ao pé do meu ouvido palavras doces, palavras sujas, frases quentes e às vezes melancólicas. Você dizia que me amava, eu retribuía com juras de amor eterno. Estou ficando lunático, olho ao redor, não vejo nada, olho de novo, vejo você, vejo estrelas douradas que me deixam cego por alguns segundos, não durmo. Acordo cansado, eu sonhei com você todas as noites, grito, choro por mais uma hora. Sim, aceito o fim. Não, eu não aceito. Meu humor varia diversas vezes ao dia. A saudade não cessa. Me pus a ler horóscopo para tentar achar uma explicação. Paraíso astral. Não. Não tem explicação, você mesma disse. Simplesmente precisa de novas experiências. Como posso viver sem você? Sempre fui um tolo, metido à intelectual, entendo de música, literatura, vinhos e domino a gramática. Era isso que você gostava em mim, sempre me disse. Então por que fugir pelos becos sujos, com um bêbado que chama você de “gatinha”, e usa sempre a mesma camiseta desbotada de um time de futebol? Não entendo. Não sei quais são as novas experiências que deseja, talvez precise sofrer, aprender, morrer e nascer várias vezes ao ano, para conseguir entender que ao meu lado é o seu lugar. Nós nos somamos, aprendemos um com o outro. Eu lhe ensinei o português, você me ensinou o amor; existe melhor soma do que essa? Não. Você voltará. Eu estarei observando as folhas caírem.