quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Something for John Quixote



Who was Dulcinea?
Who was Don Quixote?
I don't have an idea
But I could think a lot
I’m a beatnik and Kerouac's fan
I'm crazy about Dalí and I know
I would paint you under the sun
And I could write a poem to you
I want to be your bedside's problem
Or maybe just your pair of socks
I want to find your chords again
In fact I'm just another latin american
Looking for a place & a chance
When half of the tears are feelings
And the other half only water
Is a good thing
Who was Rimbaud?
What was the symbolism for us?
I don't know how to tell you for sure
But I can show if you want

terça-feira, 12 de novembro de 2013

caoseterno



veja esta moça que observa – pela janela – a sua história
a moça que não esquece o engano que o tempo – senhor do fado – gerou
esta derreada moça que examina o seu passado em sua memória
e que não olvida o desalento que no vento outrora encontrou
em seu corpo ainda estão pregados os vestígios dos mistérios
que o destino – tão cretino – assentou em seu perturbado caminho
e ainda fez da sua trajetória uma composição de escárnios
transformando-a em um cálice farto do mais adstringente vinho
veja nela o retrato abstrato de um concerto insano em moscou
que em uma fotografia derrocada das suas teorias desatinadas
a imagem em preto e branco do seu intelecto em seu aspecto sobejou
porém não se esqueça de apresentar-se com maneiras requintadas
pois ela traz consigo a suntuosidade das mulheres da belle époque
então converse com ela e a emocione com pronunciações quiméricas
para que seja possível naufragar nestes olhos com lágrimas em estoque
e compreender sua personalidade lúgubre em pessoais efígies coléricas

ao fim não se esqueça de resguardar os bongôs que ela deixar pelo caminho
e quando ao longe observá-la contestando a sempiterna orbe capitalista
ou enamorando-se por poetas utópicos aos versos repletos de neblinas
recorde-se das duas poetisas que nesta época encontrou:
o ângulo bizarro de ginsberg
a faceta libertina de rimbaud

sábado, 12 de outubro de 2013

Soneto sobre um crime

O meu esqueleto traz os indícios
De um crime obsoleto e fugaz,
Que outrora suscitou suplícios
E exauriu toda a minha paz.

Eu – em um balé romântico;
Tu – felino com sete vidas;
Dei-te um amável cântico,
Retribuíste-me com idas e vindas.

Saciei os teus anseios de paixão
E entreguei-me aos teus galanteios.
Naufraguei nessa tola ilusão
E findei num universo de receios.

Hoje sobrevivo com a cicatriz
Que fizeste neste arcabouço infeliz. 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

“espelhos de fragmentação em nós”

Do meu amor, eu faço versos 
e o meu amar, às vezes tímido,
é  tão sincero aos berros:
“espelhos de fragmentação em nós”.
Intemporal...
Na pele, não há passado,
porém, amor,  afirmo:
sinto tua sombra presente
nas minhas costas,
que já não são quentes,
mas não estão mortas.
Faça, do meu coração, pequenos pedaços
e beije-me no pescoço, deixando
a marca do teu batom por cima
das minhas veias jugulares. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Frasco nº 8

Já não sabia o que fazer. Então, acreditando ser uma escapatória, apagou a luz. O problema era o seu coração, que ainda estava aceso.

Frasco nº 7

Ele morreu, aos quarenta e sete anos, em um hospício. Enlouquecera, aos vinte e seis, por motivo de um amor não correspondido. Mas, por aquela garota, qualquer um enlouqueceria. 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Confissões de um necrófilo

eu gostaria de fazer a sua autópsia 
porque seria tão excitante passar
os dedos em cada canto do seu corpo morto
e assim eu desejaria ser a sua pele fria
eu gostaria de ser o formol que estabilizaria
o seu tecido e também preveniria
o autoextermínio das  suas belas células
eu beijaria os seus lábios gélidos
e diria: te amo assim mulher defunta
que não faz drama nem pergunta

Frasco nº 6

Há garotas fumando em frente ao bar. Há garotas bebendo rum. Há garotas saindo com caras barbudos. Há garotas lendo Clarice Lispector. E há você – que eu torço para que esteja pensando em mim.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Frasco nº 5

Penélope deixou suas digitais em todos os meus livros; e, nas cordas do meu violão, ainda sinto o suor dos seus dedos. Consequência: já não posso ler nem música fazer. 

Frasco nº 4

Carlo fumava um cigarro atrás do outro. Eu o observava incessantemente. Carlo roubava o meu tempo como o cigarro acabava com o dele.

Frasco nº 3

Quando disse “por você, eu mataria”, eu não menti. Veja bem, eu matei a mim mesmo.

Frasco nº 2

Para acalmar esta excitação? Para organizar esta confusão? Eu pensei que a poesia fosse para isso. Porém, a cada verso, sinto-me mais submerso neste universo disperso. Não há solução.

domingo, 18 de agosto de 2013

Frasco nº 1

Neste pranteado alvorecer, que aparece além da janela, a aurora arde no espaço. Eu preparo um café. Você dorme em outra cama. Penso: doutor, já não sei como escrever.

Ato de extravagância ou desvario da mocidade

Toda vez que escuto a 9ª Sinfonia, eu encarno o Alex DeLarge e, assim, cometo diversas violências.

sábado, 17 de agosto de 2013

Conjectura

Você deve estar sentada
naquela cadeira desconfortável,
que fica na sua pequena biblioteca,
lendo algum dos seus livros
e tomando um chá de maçã com canela
– que é o seu preferido –
naquela xícara de porcelana
que compramos em Buenos Aires.

sábado, 10 de agosto de 2013

poema de um cara do pós-punk

eu estava sentado em um canto qualquer do pub do bob bill
enquanto guerreava com o meu eu ao escrever um poema sentimental
a uma bela moça que conheci na casa do ringo em um domingo chuvoso
a poesia estava saindo aos poucos e dizia algo muito superficial
sobre uma neurose obsessiva que atacara um poeta leproso
que morria de amores por uma rapariga inventiva e sagaz

a musa do poema era a amiga do ringo
e eu obviamente era o poeta lazarento
a poesia ficou uma porcaria e assim
eu permaneci em um desalento
sem cura nem fim

esqueci de ir ao ensaio da minha banda de pós-punk
e pedi uma cerveja quente misturada com aguardente

reclamei em caneta e papel:

a moça era ardilosa
e me prendeu nos jogos
que sempre jogava

era uma guria dessemelhante
sua personagem era rutilante
e eu que sempre andei ébrio
embriaguei-me por este amor

eu a vi desaparecer em uma esquina
assim como outros já fizeram
foi mais difícil do que largar cocaína

ela não possuía manias e costumes
era uma moça que gostava de viajar
e então viajou de coração em coração

ela não tinha vícios nem hábitos
fumava e bebia quando queria
e eu penso que
se nem em cigarro ela viciou
por que em pessoas viciaria?

sexta-feira, 26 de julho de 2013

"tus ojos me mostraron todo lo que no conocí"

ele procurou em todos os cantos do mundo
mas os olhos dela eram de outra galáxia
no momento em que a encontrou
acabou se perdendo naquele olhar labiríntico
porém quando ela cerrou as pálpebras
ele ficou encarcerado para sempre e
desde então não se lembrava de como
havia sido a sua vida antes de conhecê-la

em uma tarde de inverno
disse a ela:
tus ojos me mostraron todo lo que no conocí

porque no inverno somos mais românticos
e também porque em espanhol
tudo soa mais bonito

segunda-feira, 15 de julho de 2013

o retrato em que você não está

você está naquele velho disco dos doors
que fica na parede do meu quarto
e também está naquela camiseta preta
e no all star vermelho que eu parei de usar
você está no on the road que eu furtei
da sua colossal biblioteca e também
naquela caneca yellow submarine
onde já não tomo mais café ou chá
você está em todo solstício de inverno
e no  suéter cinza que se esqueceu de levar
e agora está neste vazio interno
que eu já não sei como sanar
você está na cena final de casablanca
no olhar cansado do humphrey bogart
você está em quase todas as poesias
do rimbaud e do verlaine e do baudelaire
também está nas lentes dos meus óculos
que eu não consigo mais limpar
você está quando escuto radiohead
e quando o jimmy diz you’re tearing me apart
você está nas polaroids do tarkovsky  
e também no surrealismo do dalí
você está em todos os meus escritos
e em todos os acordes que estou a ouvir
você está em tantas outras coisas
mas não está no meu último retrato    
não importa 
pois na verdade 
acredito não ser eu quem está ali 

terça-feira, 25 de junho de 2013

"os poetas são as estátuas de algum jardim"

o poeta se apaixonou pela escultura
que havia sido esculpida pela escultora
que era apaixonada por cada verso
das poesias escritas pelo poeta
a escultora esculpiu o rosto do poeta
para demonstrar o amor que nela existia
o poeta era narcisista e da sua face
poetou mentiras fúteis sobre o amor
sórdido e mórbido que por si sentia
declamou todas as estrofes à estátua
– sem ação ou expressão – e assim
restou a mesma escultura de mármore
e esta confissão:
os poetas são as estátuas de algum jardim
as escultoras são os princípios de uma inspiração