Eu sonhei com o inverno de 88
e, no sonho, você estava sem cachecol,
mas usava uma touca cinza e luvas pretas
que cobriam os seus dedinhos finos.
No sonho, você beijava a minha bochecha,
fria e vermelha, enquanto eu fumava um cigarro.
Sonhei com o seu olhar tímido
e pude ouvir a sua voz, levemente enrouquecida,
declarando o amor que, de alguma forma, existia.
Foi um ato poeticamente poético,
foi poesia pura para a minha amargura.
Sonhei com sentimentos nítidos e
congelei,
no espaço mais casto do meu cérebro,
o seu sorriso pacífico.
Invadi as minhas lembranças esquecidas
e abusei dos meus desejos suicidas,
mas não rompi os laços que me uniam a você.
Sonhei bonito, sonhei sem medo, sonhei um devaneio
eterno,
mas não o guardei, porque sonhei para o vento,
sonhei para o cosmos, sonhei um sonho que não se fez
real.
A única diferença entre o meu
sonho
e o inverno de 88 – infelizmente,
foi a realidade.
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