se estou agora abstraída é porque ele me leva aonde vai
mas ele não vai a lugar nenhum e somente fica a me observar
e assim permanecemos inertes por um curto longo período
sentindo as antigas barreiras criadas por equívocos pungentes
desmoronarem como o muro de berlim no início de sua queda
na noite de nove de novembro de mil novecentos e oitenta e nove
absorta recordo-me do que fiz e de todos aqueles sentimentos
que não demonstrei e logo dissimulo olhares e reproduzo cenas
de filmes e tudo se torna bonito e ao mesmo tempo tão clichê
que acabo por não saber se é real ou apenas um universo utópico
eu sei que é tudo amarelo por outra vez porque ele me guarda
em seu abraço e não me esquece ao chão ou olvida os versos rotos
que declamo despidos à sua mouca malsinada perene audição
e se me findo em seu amor é porque nele há uma libido extrema
e uma doçura tão amena pois me compara a helena de troia
e me furta com estrofes singelas e com toda doçura de seus lábios
que dizem: look at the stars look
how they shine for you
então respondo: I swam across I
jumped across for you
e sei que é tudo amarelo por outra vez num recomeço pacífico
e poético com palavras afáveis e rimas pobres e rimas nobres
haicais magnéticos que me levam ao interior de um cofre
em que me deito junto ao meu estro poético enxofrado
e escrevo... escrevo... escrevo... sobre ele que era tão poeta
e que por ser assim ao fim em poema se transformou
e por outra vez eu vejo tudo amarelo e permaneço absorta
e permaneço abstraída e permanece amarelo