quarta-feira, 17 de julho de 2019

árvore-da-vida

estranho foi ontem quando acordei
no meio da noite e te segurei pelas mãos
como se a gravidade fosse mais
é algo que não sei descrever (e tudo bem)
pelo menos acho justa esta amizade
que tenho contigo e por ti sei dizer
algumas verdades sem me doer
já te contei sobre a minha infância
na casa de meus avós? às vezes
gostava de me sentar no final do pomar
e jogar algumas frutas para os animais
eram vacas enormes e os filhos delas
eles comiam todas as frutas e com os
olhos pediam mais e eu não me importava
em arrancar todas as laranjas das laranjeiras
para alimentar aqueles meus bichos amigos
hoje depois de alguns anos e do fato
(aquele que já não menciono tanto)
senti vontade de voltar e de me sentar na
grama verde do final do pomar e esperar
até algum animal silenciosamente pedir fruta
mas não há mais animais (há frutas)
sabe que das durezas da vida a pior delas
é não poder rebobinar os bons sentimentos
então eu finjo que os sinto quando coloco
aquela música para tocar repetidamente
durante estas infinitas noites de inverno
sei que através delas tu também tens os teus
problemas e quão sérios eles são e talvez
não tenham solução (e tudo bem) porque
nem tudo acontece para terminar bem
posso contar em uma mão o que me
machucou no último ano e acho poético
mas o tanto que sofri pelo efêmero
sabe? não é bonito escrever nem narrar
(desculpa te ouvir mais do que sei falar)
então me desperto à noite e te peço
encarecidamente para segurar minhas mãos
sinto dor ao perder os dedos que me tocam
talvez seja isto que me assombra desde o pomar
não é mesmo? eu nunca quis perder as laranjas
para os animais mas não sabia como negar
a eles aqueles momentos de alegria por ganhar
frutas novas recém colhidas das laranjeiras
as árvores do pomar da minha infância

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