sábado, 24 de abril de 2010

Vienna

Depois de uma briga, ele saiu. Ela ficou sentada, chorando, na cama. Ele entrou no carro, ligou o som e começou a tocar Vienna. Seria o fim de um relacionamento conturbado e repleto de discussões? O que eles precisavam falar, se calou. O que ela queria ouvir, ele não disse.

Ela levantou, foi até a janela, o carro ainda estava lá. Fechou a cortina, foi ao banheiro, lavou o rosto, com água gelada, olhou no espelho, viu sua face pálida com os olhos vermelhos e as gotas das lágrimas derramadas se misturando com as gotas de água. Chorou mais. Doía muito, e só ela sabia a dor de todas aquelas brigas, a dor do abandono, a dor das palavras ditas e do medo. Medo de perdê-lo por mais uma vez, porque, a cada nova briga, ela sentia que um pedaço de suas almas se desunia.

Ele ligou o carro, enquanto ouvia a voz de Isaac Slade, e percorria as ruas escuras daquela noite fria, pensava nela, em tudo o que tinham vivido juntos, pensou no que disse. Ainda via os olhos dela cheios de lágrimas, escutava a sua doce e delicada voz pedindo para que ele parasse, pois não aguentava mais. Percebeu, então, que, naquele momento, a havia perdido para sempre. Nunca em uma briga ela tinha pedido para ele parar, nem mesmo havia chorado em sua frente.

Ela estava sentada no sofá, na televisão assistia a algum filme estapafúrdio com atores excêntricos e desconhecidos, pensava nele e em como ele era grotesco. Como poderia ela ter sofrido tanto todo esse tempo?
O amor, que pensava existir, não existia. Era costume. Muitas vezes, quando se convive muito tempo com certa pessoa, pode acabar confundindo “amar” com “acostumar”. Ele tinha sido seu primeiro namorado. Quatro anos de desentendimentos, palavras rudes e por poucas vezes o amor que ela buscava, que ela merecia.

Ele telefonou, ela atendeu. Silêncio por alguns instantes...
- Você nunca atende tão rápido – ele disse.
- Hoje é diferente – ela respondeu.
- Não vai mais ser como antes, não é? – ele continuou.
- Não sei se você me ama, já não sei mais se existe amor entre nós, mas tenho certeza que eu não o amo. Acabou e não insista – ela desligou. Não havia mais lágrimas para derramar. Sorriu.

Pela primeira vez, ele chorou.

“Talvez em cinco ou dez anos nós nos encontremos novamente. Quando a coisa toda estiver certa. Talvez então a necessidade de honestidade não seja temida como um amigo ou um inimigo. Esta é a distância e esta é a face do meu jogo.”

Nesta noite, Vienna era toda para ela.

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