quinta-feira, 22 de abril de 2010

Um cappuccino quente, por favor!

Sinto o vento gelado arranhar a minha face, cortar os meus lábios e rasgar a minha alma. Permaneço sentada. O banco está gelado, a praça vazia, uma tarde de sábado com o céu prata acinzentado, inverno rigoroso. Sinto-me só, meus amigos foram embora, ainda não encontrei o amor - ou ele não me encontrou? - Amor. Pequeno detalhe que faz uma enorme falta. Levanto, caminho em direção à igreja, não me recordo qual foi a última vez que lá entrei. Volto a andar, sem rumo, sentindo os primeiros pingos da chuva caírem ao chão. Entro em um Café, há duas moças no balcão, um senhor de terno azul, lendo algum jornal da cidade, e escuto uma música tocar no volume mínimo... "Hold me tight". Na última mesa, um rapaz, de óculos, toma seu café, suavemente desce a xícara até o pires e coloca mais açúcar. Sento-me em uma mesa antes da sua, ele me olha por um pequeno instante e continua a adoçar o café. Uma, das moças do balcão, vem até mim e pergunta o que desejo. Peço um cappuccino. Não consigo tirar os olhos daquele rapaz, cuido todos os seus movimentos, a maneira com que ele mexe o café com a colher, o modo como morde os lábios após tomar um gole. Ele me olha, disfarço, ele sorri - quase morro - sorrio timidamente. Tenho a mania de tentar entender as pessoas, mas nesse momento não consigo entender-me muito bem. A moça traz o meu cappuccino, agradeço. Um cappuccino quente, em um dia de frio, é capaz de aquecer um coração gelado... Acredite. O rapaz levanta, está usando uma camiseta branca, escrito “Oasis”, em preto, ele é magro; pega o seu casaco, que está sobre a outra cadeira, veste-o, tira uma touca do bolso e a coloca. Olha para mim, se vira e vai ao banheiro. Parece que nascemos um para o outro, fico imaginando nós dois de mãos dadas indo ao cinema... Estranho, não sei nem ao menos o seu nome e já vejo um futuro entre nós. Ele volta, eu estremeço, passa ao meu lado e deixa um bilhete cair lentamente sobre minha mesa. Não tenho coragem de ler. Fico parada feito uma tola, olhando um retrato do John e do Ringo, abraçados, que está na parede. Olho para fora, através da vitrine, e vejo-o atravessar a rua. Leio o seu bilhete: “Oi, meu nome é Max, sei que o seu é Giovanna, sei, também, que é estudante de Direito, pois estudamos na mesma universidade, porém faço Música. Venho todos os sábados aqui, no próximo, se quiser me acompanhar, ficaria mais tranquilo, porque se, caso, não aceitar meu convite, morrerei de vergonha e terei que mudar de cidade.” Levanto e pago o meu adorável cappuccino, que conseguiu a façanha de esquentar meu peito e me trazer uma pequena alegria de viver. Agradeço sorrindo, e até sábado à tarde.

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