Você é, para mim, uma nova
pesquisa
Sobre discos de blues do século passado
Que, por mais sujos e
riscados,
Não escondem as suas reais
aparências
E, nas madrugadas, embalam as
conversas
Dos solitários que frequentam
a “Rua da Tristeza”.
Sento em um canapé, enquanto
você molha a bolacha no leite
E pergunta se parei de tomar
remédios para dormir,
Eu respondo: sim, você me
influencia.
Ensinou-me, com essa mania
de não levar o amor no bolso,
Mas, sim, no peito, que as
pessoas não podem fingir ser frias,
Principalmente, quando estão
“inlovinho” (apaixonadas), porque
isso não é proteção,
Mas falta de coragem – e coragem
não me falta (ou falta?).
Porém, no âmago do sentir,
enquanto escrevo em um pedaço de papel amassado,
Percebo que você se esconde,
talvez para aumentar o mistério, e depois
Surge, assustada, e
sussurra: eu que mando, vai embora...
E, outra vez, vou dormir sem
lhe desejar boa noite.
Você foge e eu corro atrás, tentando
imitar a cena
De um filme que assisti na
semana passada, mas canso
E grito algumas palavras
feias e, essas palavras, sempre resolvem,
Pois você volta, irritada, e
diz que não posso falar assim.
Penso que você é um
presente, o mesmo presente que Marx nos deu
Com a sua filosofia, mas
recordo, lentamente, que você é Marx, não Karl,
E, sim, Marcella, a minha
amiga que não come brócolis.
Então, penso em convidar
você para tomar um chá,
Só que você não gosta de chás,
e fico sem saber o que fazer.
Digo: you are my only one –
e você diz que eu falo isso para todas,
Respondo: não – mas no fundo
você sabe que eu falo, e eu sei que você sabe.
Sinto uma saudade elástica
de você e acho que isso pode ser um problemão,
Aquele tipo de problema que,
de tão grande, não tem solução.
Tento ver pelo lado positivo
e, mesmo assim,
O problema – que é gigante –
continua sendo um (enorme) problema.
Bebo como nunca bebi antes;
Você me chama de alcoólatra
e reclama do meu cheiro de vodca,
E da minha falta de banho, mas
é inverno e eu não posso solucionar
Esse problema – outrossim, tudo
fica recíproco, pois você também não soluciona
Aquele problemão que se
chama: saudade.
E é isso que eu sinto quando
você não está.
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