terça-feira, 8 de setembro de 2015

de.pois

Ele exibia expressões de arrependimento
de uma vida advinda de seu bovarismo
plenamente cego por seu ego frágil e só.
Apesar da exterioridade diminuta, que
dissimulava o arquétipo do século, ele
desconhecia a maioria dos livros e dos
filmes que valiam a pena. Seus medos
insanos – penosos e infantis – afirmavam
sua fragilidade de menino em busca de
autoafirmação. Deixo minha confissão:


Eu também fui assim quando tinha aqueles
dezenove anos, boy. Hoje sou outra. Crua.
Sou a mulher que nasci para ser, e jamais
abrirei mão de minha personalidade agreste.
Não precisa mais treinar frases pacóvias
em frente ao seu espelho de menino casto
nem chorar quando desabar no seu próprio
vazio. A vida flameja sob o firmamento e
o tempo enxuga seu líquido férvido com
as escolhas enxutas de cada indivíduo.


Preferências que por diversas vezes se
assolam em um destino frívolo de uma
limitada existência: sequer em palavras
remanescem metafóricos sentidos afoitos.
Nas frases cotidianas, a língua portuguesa
resplandece em meu esmalte vinho clássico,
declarando aquela sua mania cretina de não
isolar o vocativo com uma vital vírgula, boy.
Meus olhos míopes e astigmáticos – isentos
de misericórdia – proferem: je suis desolée.


Só para você ver: a questão – tão abrupta
proclama seu martírio infuso no melodrama
da coluna social de uma choldra jornalística.
Uma televisão multicolorida não afaga o
tormento oriundo de suas novelas mentais
e de seus hábitos inteiramente falidos.
Talvez algum versículo grifado em suas
pálpebras obscuras não permita que seus
intentos se realizem de modo vertiginoso
ou que cortem aqueles forçosos efeitos.


Sem epílogo remanescente:
Há o som de um trompete noturno.
Audível.
Silenciosamente musical.
Sensível.
Um espaço para partituras.
Repare bem em tudo o que não foi
escrito.

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