quinta-feira, 25 de abril de 2019

espaço e tempo: as caixas

choveu tanto que todas as caixas derreteram sozinhas
deixadas ao lado de sacos de lixos na calçada da rua
da minha casa e continuou chovendo muito que sequer
saí para fora do escritório depois do fim do expediente
e não comprei café e água ou chá e vinho e qualquer
coisa que possa me alimentar e também te alimentar
porque eu sempre me preocupo se tu vais passar fome
depois de me aguentar por quatro horas reclamando
que já não tenho minutos para gastar em algumas folhas
de processos velhos refertos de ácaros e de mentiras
e quando parar de chover – porque em um momento,
meu amor, não haverá mais chuva – não perderei o meu
tempo já chamado de subjetivo ou de noção a priori
e como kant negarei a realidade dele e penso que pelo
bem do sujeito desta oração farei o mesmo conosco
sem arrependimentos ou sentimentos e ressentimentos
então depois de encerrado todo o dilúvio e de toda água
potável haver acabado tu compreenderás que era fonte
esgotável em um tempo de intuição interna não real
como objeto e que não será possível reconstruir as caixas
que foram deixadas sozinhas do lado de fora da casa

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