O encerramento
do sexto ano se aproxima. Escrevo sobre quinze de janeiro. Há seis anos. Havia
uma jovem que recém tinha terminado o ensino médio. Havia resquícios de
rebeldia. Marcas da infância. Problemas de personalidade sob um invólucro de
poucas palavras e de muita observação. O relógio foi rápido e os calendários
narraram seus dias. O tempo foi justo. As letras modeladas descobriram o que
estava encoberto por duas décadas. Este espaço foi um jogo pessoal de
revoluções mentais. Seis anos em guerra contra faunos: a mulher venceu sua
escrita. Ela eclodiu em uma luz transcendental. Os projetos se amplificam e se
tornam coisas reais. A realidade vem em um folk antigo. Descasquei-me e me vi
nua em um retrato futurístico. Li meu nome em voz alta. Cerrei as pálpebras por
seis segundos, abri e percebi o dezessete se metamorfosear em um vigoroso vinte
e três. Pensei como Alejandra Pizarnik: observei aquela outra e fitei a de
agora. Aceitei-me: exótica, excêntrica e mulher. Perdoei-me. A vida está me
guiando por um novo caminho. A jornada é tranquila. Submeti-me ao processo e
com ele chegarei ao topo da montanha sagrada para apanhar minhas estrelas e guardá-las
no bolso do meu jeans desbotado. O desenho de um olhar nos meus olhos sob
grossas sobrancelhas escuras e a palidez da tez sobre o cálido sangue não
mudaram. A mudança se esconde em partes impossíveis de serem vistas, mas é perceptível.
A franja e os óculos estão aqui, mas o blog cumpriu sua promessa e adormecerá
no universo internético. Se você me lia, não mais me lerá. Talvez em um janeiro
futuro, talvez nas páginas de um manuscrito. Até mais, caos eterno. Agora que
sou outra já não tenho medo que isto acabe. Vamos à história dos subúrbios, leitor.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
Poema ao mar II: caixinha de correspondência
aqui não chega o
mar
tem areia nas
paredes
mas no sal não
há vermelho
pacífico morto
reviro-me no
quarto
do baú ao
espelho e
busco cartas de
doçuras escritas
aflita
escrevo sobre a
falta
que faz a praia
no inverno e na
casa
caixinha de
correspondências
vazia
não confio em
quem
da costa
não escreve
cartinhas de amor
cheias de areia
de sal
de sol
à amada que
morre
por amar seu
amor
do mar
Poema ao mar I: caixinha de música
o silêncio
criado se vai
pelo vão da
porta
entreaberta
o som da
caixinha de música
se esvai pela
vidraça quebrada
coberta
por uma cortina
de flores
margaridas
brotaram do lado
de fora da velha
cabana
não há sonoridade
nos cômodos
não há silêncio
nos aposentos
estranho silente
sonoro
desmonta quarto
e cozinha
vazia se nota a
mesa
o assoalho apaga
marcas
de botinas sujas
de terra
os homens se
foram
foram ao mar
vender
seus dias
restantes
seus restos de
homens
sobre eles não
se fala
nessa família de
mulheres
fêmeas pariram
sozinhas
meninas
cresceram sem sonhos
de serem
mulheres
de famílias
de homens
do mar
marinheiros se
vão
ao porto embarcam
não retornam às
margaridas
de suas cabanas
antigas
onde estranhos silentes
sonoros
desmontam
caixinhas de música
das meninas sem
sonhos
sábado, 2 de janeiro de 2016
vida violeta: ela acrônica
enquanto crianças
corriam pelo gueto de varsóvia
mortas de medo do
tempo e sem ar nos pulmões
viu-se uma carta
de luz narrar a vida acrônica de
uma jovem que subsiste
em um futuro violeta
ouvindo canções
perdidas de mãeana a radiohead
umedecendo seus
olhos mpb e seus lábios rock’n’roll
ama páginas
marcadas costuradas no corpo celeste
e conta os
astros que revelam segredos do cosmos
dizem que noutra
época a moça se perdeu com
deuses do monte
olimpo e por isso acabou presa
num tempo
inundado de pessoas sem quimeras
e teve de se
contentar com estórias em tela plana
há relatos de
que ela foi a primeira a furtar livros
da biblioteca
cardíaca do último condado fantasma
da primeira nação
oxidada do universo luminoso
deixando sem
peso as estantes de árvores mortas
sabe-se por aí
que ela corre e tenta alcançar o real
mas um vento de
cores frias não a deixa sair de seu
intelecto
utópico e assim sua voz continua soando
como clair de
lune para as audições mais raras
ela revive seus
dias de outrora e se percebe entre
flores mitológicas
numa terra cintilante em que
há o celestial
nos sentimentos e o sexo tântrico
é comum entre os
amantes e seus corpos poéticos
enquanto os
pequeninos de varsóvia se perdiam
pelo gueto e
dormiam pensando em suas mães
a carta de luz
ensinou a eles a capacidade humana
de sonhar e de desejar a vida numa vida melhor
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