estranho
foi ontem quando acordei
no
meio da noite e te segurei pelas mãos
como
se a gravidade fosse mais
é algo
que não sei descrever (e tudo bem)
pelo
menos acho justa esta amizade
que
tenho contigo e por ti sei dizer
algumas
verdades sem me doer
já
te contei sobre a minha infância
na
casa de meus avós? às vezes
gostava
de me sentar no final do pomar
e
jogar algumas frutas para os animais
eram
vacas enormes e os filhos delas
eles
comiam todas as frutas e com os
olhos
pediam mais e eu não me importava
em arrancar
todas as laranjas das laranjeiras
para
alimentar aqueles meus bichos amigos
hoje
depois de alguns anos e do fato
(aquele
que já não menciono tanto)
senti
vontade de voltar e de me sentar na
grama
verde do final do pomar e esperar
até algum
animal silenciosamente pedir fruta
mas
não há mais animais (há frutas)
sabe
que das durezas da vida a pior delas
é
não poder rebobinar os bons sentimentos
então
eu finjo que os sinto quando coloco
aquela
música para tocar repetidamente
durante
estas infinitas noites de inverno
sei
que através delas tu também tens os teus
problemas
e quão sérios eles são e talvez
não
tenham solução (e tudo bem) porque
nem
tudo acontece para terminar bem
posso
contar em uma mão o que me
machucou
no último ano e acho poético
mas o
tanto que sofri pelo efêmero
sabe?
não é bonito escrever nem narrar
(desculpa
te ouvir mais do que sei falar)
então
me desperto à noite e te peço
encarecidamente
para segurar minhas mãos
sinto
dor ao perder os dedos que me tocam
talvez
seja isto que me assombra desde o pomar
não
é mesmo? eu nunca quis perder as laranjas
para
os animais mas não sabia como negar
a
eles aqueles momentos de alegria por ganhar
frutas
novas recém colhidas das laranjeiras
as árvores
do pomar da minha infância